Lâmpadas LED, aquecedor solar para a água e painéis fotovoltaicos no telhado. Geladeiras mais eficientes, mas nada de freezer. Ar condicionado só split e, na garagem, um carro a gás ou elétrico. De acordo com as projeções da Coppe/UFRJ para a Matriz Energética do estado, o Rio de Janeiro terá casas assim em 2031. Caminho natural para os mais ricos, habitações mais eficientes do ponto de vista energético também poderão ser encontradas nas regiões mais pobres do estado. Dependerá do poder público, dizem os pesquisadores.
Em geral, se projeta a casa do futuro a partir do lançamento de novos produtos. A oferta de energia local, porém, é fator decisivo para as adaptações. Muitas famílias europeias têm fogão com placas elétricas ou de indução, enquanto, no Brasil, e sobretudo no Rio, chamas a gás reinam quase absolutas. Segundo a Coppe, em 13 anos, os fluminenses vão usar fogões com o mesmo tipo de alimentação, devido à produção crescente de gás natural no estado.
O estudo da Coppe mostra que a participação do gás na produção total do estado vai saltar de 34% (2016) para até 44% em 2031, praticamente o dobro do que o petróleo e seus derivados (GLP) oferecerão para o conjunto da demanda local, que, além das casas, envolve os setores de Indústria, Serviços, Transportes e Agropecuária. Embora o gás tenha forte presença no setor residencial, a energia de maior consumo ainda é a elétrica. As moradias são as que mais consomem esse tipo de energia, mas suas fontes vão se diversificar no médio prazo.
A invasão do LED
Se vamos cozinhar do mesmo jeito, muitos outros aspectos da rotina vão mudar até 2031. Uma das previsões mais certeiras da Coppe diz sobre a iluminação, que será transformada pelo uso massivo de lâmpadas de LED. Estima-se que, hoje, 90% das habitações fluminenses utilizem modelos fluorescentes, enquanto os 10% restantes já usem o LED. Na projeção mais conservadora, essa última parcela deve subir para 37% dos domicílios, mas pode chegar a totalidade das casas se a venda de produtos fluorescentes for proibida, conforme sugere a Coppe/UFRJ.
“Todas as nossas indicações têm os pés no chão. Propomos o que realmente pode ser feito. No caso das lâmpadas, inclusive, existe um precedente”, comenta a pesquisadora da Coppe Nathalia Pedreira, em referência à proibição, em lei, da comercialização de lâmpadas incandescentes a partir de julho de 2016.
Pedreira lembra que, além de baratear a conta no final do mês, lâmpadas a LED também são mais resistentes e seu descarte tem menor impacto ambiental, já que não possuem mercúrio. Caso o governo acolha a sugestão da Coppe e acelere o processo natural de substituição das lâmpadas, o consumo de energia elétrica para fins de iluminação seria reduzido em cerca de 35%.
Aparelhos de refrigeração
Apesar disso, lâmpadas pesam pouco no gasto de energia do setor residencial (6,8%). O consumo das geladeiras e aparelhos semelhantes, que hoje representam cerca de 14% do total, também pode cair (-2%) em um cenário no qual o consumo de todas as outras atividades caseiras vão aumentar pelo acesso crescente da população a eletrodomésticos.
Essa redução no consumo da refrigeração, porém, também dependerá de iniciativas do poder público. Quase todas as moradias do Rio têm geladeiras e as camadas médias e ricas já fizeram a substituição por modelos mais eficientes. Portanto, um vetor de economia seria massificar essa troca dos aparelhos nas casas das famílias mais pobres.
“A aquisição de aparelhos mais eficientes sempre é feita visando a economia na conta de luz. Muita gente tem consciência ambiental, mas o que pesa mesmo é o bolso”, lembra Pedreira. É nessa linha que funciona a tarifa social oferecida às famílias do Cadastro Único de Programas Sociais do Governo Federal que provam esforço de economia. Subsidiado por um fundo público e aplicado pelas empresas distribuidoras, hoje, o desconto na mensalidade é de 65% na conta para as famílias que usam até 30 kWh, 40% para um consumo de até 100 kWh e 10% para casas que consomem até 220 kWh.
O problema, explica Nathalia, é que esse desconto leva em conta o consumo por residência, ignorando o número de pessoas atreladas a uma mesma conta. “O programa acaba sendo limitado”, diz. Por isso, a Coppe/UFRJ sugere que a base de beneficiários seja ampliada dentro do universo de pessoas de baixa renda e não fique restrita aos beneficiários de programas sociais, dobrando o número de famílias contempladas de 6% para 12%.
Já o uso de freezers está caindo naturalmente ao longo dos anos e, em 2031, o aparelho só deverá estar presente em 14% dos lares fluminenses. Bem diferente é a tendência dos aparelhos de ar condicionado. Hoje presente em apenas 58% das casas, a refrigeração do ambiente tem grande potencial de expansão, o que aumentará o consumo de energia dessa linha. “O item não é considerado como de primeira necessidade, e isso limita a atuação do governo”, explica Pedreira. Ainda assim, haverá uma substituição natural do “tipo janela” pelo “tipo split”, que é até 60% mais econômico. Por isso, a Coppe projeta que, em 2031, sete a cada dez famílias optarão pelo segundo modelo, o que fará o consumo dessa linha aumentar apenas dois pontos percentuais.
Aquecimento de água e energia solar
A Coppe/UFRJ projeta baixa dos chuveiros elétricos no Rio, com aumento do número de aparelhos de aquecimento de água por gás liquefeito de petróleo e gás natural. O movimento viria na esteira da expansão da base de domicílios atendidos pela CEG, que avança, em média, 3,7% ao ano. Além disso, uma alternativa secundária é o uso de aquecedores solares, pequenos sistemas acoplados aos chuveiros que, em uma perspectiva conservadora, estarão em 12,6% dos lares e, no melhor dos cenários, podem chegar a 23% do setor residencial em 2031.
A transformação da energia solar em elétrica para o consumo familiar não deve ficar restrito ao chuveiro. Hoje, estima-se que existam pouco mais de 4 mil unidades geradoras, ou seja, com painéis fotovoltaicos ativos. Esse número deve aumentar exponencialmente e, em 2031 alcançar 331 mil lares. Significaria um pulo na capacidade instalada de 12,5 MWp para 994 MWp. Essa alta superior a 7.000%, mesmo assim, representará muito pouco diante da oferta das fontes fósseis ou de outras renováveis, como as hidrelétricas – que vão ampliar muito a capacidade com a consolidação da distribuição da força advinda de Belo Monte, prevista para o ano que vem.
Novamente, Nathalia Pedreira adverte que a instalação de painéis fotovoltaicos nos telhados de casas e apartamentos será um processo natural para as camada mais ricas, mas que deverá ser induzida pelo governo no caso dos mais pobres. “Uma solução viável para esse dilema é a instalação dos painéis nos projetos do Minha Casa, Minha Vida, com a diluição dos custos de implantação no preço das mensalidades”, aponta. Segundo a Coppe/UFRJ, se houver investimento público, é plausível que 30% das moradias do programa disponham dessa tecnologia até o ano que vem. Em 2026, seriam 60% das unidades para, em 20131, atender a todos os apartamentos.
Entre outros benefícios, a micro geração fotovoltaica permitiria descontos na conta de luz, a partir da carga encaminhada por unidade para uma central de distribuição. O produtor de energia injetaria sua cota na rede e abateria no fim do mês. A economia financeira seria maior se a energia da concessionária não fosse tão carregada de impostos (cerca de 40%) do valor da conta, enquanto a energia de geração solar é isenta de tributos.
Fonte: >GABRIEL VASCONCELOS / http://www.jb.com.br