RIO — Em um futuro nada distante, você vai entrar no seu prédio apenas mostrando o rosto ou com a sua digital, sem dizer sequer um “bom dia”. Se estiver de carro, a placa em frente ao portão bastará para reconhecê-lo e permitir a entrada.
As entregas serão feitas através de um armário, sem contato humano, e as rondas, por drones. E, quando a visita chegar, você não precisará estar lá para recebê-la. Através de um aplicativo será feito o pré-cadastro e um código de acesso (QR Code) será enviado para o celular dela, o qual vai liberar a entrada.
Pode parecer filme, mas estas são as novidades em segurança de condomínios residenciais. Algumas já funcionam em outros estados, como São Paulo, e outras ainda estão chegando no Rio.
— O que existe de mais moderno na segurança para casas e condomínio é a portaria remota, em que o atendimento a visitantes e prestadores de serviço é feito através de uma central. Quem está do lado de fora não vê com quem fala. Em vez do porteiro, quem faz a ponte entre a visita e o morador é a central — explica Walter Uvo, especialista em tecnologia de segurança de condomínios da MinhaPortaria.com, presente em outros estados e que chegou há dois meses no Rio.
Outras novidades
O diretor da Precisão Administradora, Ricardo Chaflin, destaca ainda a “internet das coisas (IOT)” na segurança dos condomínios. Este tipo de tecnologia, diz, é usado não apenas nas portarias remotas, como também para monitoramento via smartphones.
— É uma tendência global que, no contexto da segurança predial, está promovendo uma verdadeira revolução. Os instrumentos de segurança eletrônica trabalham integrados à internet, monitorando os ambientes, enquanto fornecem dados importantes para reforçar a qualidade dos serviços. Bons exemplos dessa utilidade estão no uso das portarias remotas.
Segundo Uvo, o alto custo inicial é uma das barreiras para a segurança baseada na tecnologia, mas há também questões culturais – e não apenas pela desconfiança do digital.
— No Rio, por exemplo, quando se pede pizza, o entregador vai até à porta do apartamento. Em São Paulo não tem isso. O morador desce e pega na entrada – diz ele, que completa:
— O investimento nos primeiros cinco a dez meses, dependendo do condomínio, é alto para instalar o sistema de segurança. Mas, depois que passa a ser só a manutenção, o morador gasta em torno de 60% a menos com a taxa mensal.
Como na terra da garoa
As novidades em segurança de condomínios no Rio são mais adequadas aos residenciais novos, em sua maioria nas zonas Norte e Oeste, além dos de alto padrão na Zona Sul.
Na Barra, entre os itens de segurança, por exemplo, o residencial Bernini usa dispositivos de pânico wireless .
— Em caso de coação do morador ou acesso ao respectivo apartamento, será possível acionar um botão de pânico que informará à Central de Segurança sobre a existência de alguma anormalidade naquela unidade – explica Bruno Oliveira, gerente de marketing da Calçada.
Na Baixada, a incorporadora Jeronimo da Veiga apostou no chamado “pulmão de segurança”, em que há dois portões.
— De carro ou a pé, o visitante entra por uma primeira portaria e, somente depois que esta é fechada, a segunda é aberta. A portaria blindada e todo os itens de lazer também ajudam os moradores a ficarem dentro do complexo e a evitar a circulação pela a rua. Morar em uma região como a Baixada Fluminense hoje, infelizmente, é sinônimo de insegurança – acrescenta o diretor comercial Maurício Santos.
E, em Nova Iguaçu, a mesma incorporadora tem um empreendimento do Minha Casa, Minha Vida com reconhecimento facial e biométrico para acesso ao condomínio, além de câmera com reconhecimento da placa dos carros dos moradores.
Vale lembrar que de nada adianta todo o investimento em segurança, seja tecnológico ou de pessoal, se os moradores não cooperarem. Por exemplo, deixar a portaria aberta ou permitir a entrada de estranhos, assim como liberar a entrada de veículos sem ver quem está dentro são atos que botam os moradores em risco.
Porteiros têm que se adaptar às novas tecnologias
O uso cada vez maior da tecnologia é polêmico. Para alguns, é positivo, pois minimiza custos a longo prazo, oferece mais segurança – já que tudo é feito por liberações através de códigos e sistemas integrados – e otimiza processos.
Por outro lado, em nome desta mesma segurança, moradores ficam cada vez mais expostos, o que pode ser um incômodo, ainda mais se considerarmos que o acesso e o uso das imagens pode ser feito de forma nociva nas mãos erradas. Ou seja, a privacidade acaba sendo o preço da segurança.
Mas há ainda uma outra questão quando se trata de condomínios residenciais, especificamente: os porteiros. Se o futuro prevê portarias controladas digitalmente à distância e sem a presença deles, como fica essa classe de trabalhadores?
Para Walter Uvo, da MinhaPortaria.com, e Marcelo Borges, diretor de condomínios e locações da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi), a robotização é inevitável e a saída para eles é se adaptar à nova realidade.
Por exemplo, exercer outras atividades nos prédios, como de síndico e zelador, ou até mesmo ir trabalhar nas empresas de tecnologia e segurança.
— O avanço tecnológico em qualquer área acaba provocando migração de mão de obra, e isso tem acontecido em várias áreas que estão robotizando as suas ações. Isso vai chegar nos condomínios – afirma Borges.
Ele pondera que as mudanças não serão do dia para noite, seja pelo custo ou pela resistência à tecnologia, especialmente no Rio. Para ele, isso começará quando houver maior necessidade de reduzir custos e quando os primeiros casos na cidade apresentarem sucesso.
— Aqui, percebemos um movimento ainda mais tradicionalista. Alguns condomínios têm discutido a implementação de novos sistemas de segurança, mas vejo resistência dos moradores. Alguns argumentam que o porteiro ajuda em atividades do dia a dia, como abrir a porta do elevador, carregar as compras e em uma emergência em casa – afirma Borges.
Confira as novidades
Portaria sem porteiro
Na prática, funciona da mesma forma: o visitante ou prestador de serviço aciona o interfone e o morador libera a entrada. A diferença é que essa chamada no interfone será recebida em uma central, que não fica no prédio, e esta central é que vai fazer a comunicação, tudo remota e virtualmente.
Biometria facial e digital
É usada tanto na entrada do prédio quanto para liberar o acesso aos andares. Assim, só entra no prédio quem tem a biometria registrada e autorizada. O morador pode, por exemplo, cadastrar a permissão de acesso para um empregado apenas de segunda a sexta.
Visitantes agendados
Se você vai receber alguém na sua casa, pode enviar um código de QR Code ou um código para o aplicativo do sistema de segurança especificando o nome e hora do visitante ou prestador de serviço, para que quando ele chegar, já tenha tudo liberado para a entrada.
Armários com senha
No lugar de ter um funcionário para receber as encomendas, o condomínio tem um armário coletivo com compartimentos separados onde o entregador deixa a encomenda e digita o número do apartamento. Ao fazer isso, o morador desta unidade vai receber uma senha em seu celular que lhe dará acesso a este armário depois.
Drones e celulares
Ainda entre as novidades, estão os drones para fazer rondas na área do condomínio, especialmente m áreas de difícil acesso onde as câmeras não alcançam, a portaria blindada e o controle virtual, em que, pelo celular, é possível monitorar ambientes à distância.
Fonte: https://oglobo.globo.com/ Raphaela Ribas